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quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Uma pipa no céu


Amigos leirores,


Hoje publicamos uma bela contribuição de nossa leitora Christina Junqueira, um lindo texto de uma honrada professora Srª Eliette Ferreira.

Obrigado Christina pela contribuição ao BLOG!


Por Christina Junqueira




Queridos amigos do Amamos Barra Mansa, estou enviando em anexo uma crônica sobre a cidade, escrita pela professora de português da minha geração. Com essa crônica ela tirou o 1º prêmio II concurso municipal crônicas - 1984.
Como eu sou da década em que ele chegou em BM, e bem verdadeira pois vi tudo isso acontecer e, ainda hoje acontece, todas as residências grandes, mais antigas da cidade viraram clínicas, os cinemas que vocês já postaram as fotos viraram Edifício e loja popular, as famílias tradicionais e ricas sumiram, e tudo o mais que esta crônica e a mais pura verdade mas, Barra Mansa continua com seus encantos e atraindo pessoas de outros lugares, que aprendem a amá-la.

Que Deus os abençoe!

Maria Christina


1º prêmio II concurso municipais crônicas- 1984

Uma pipa no céu
Eliette Ferreira
A História sempre nos ensinou que as grandes civilizações cresceram às margens de um grande rio. E que, quanto maiores as dificuldades enfrentadas, mais depressa se desenvolveram e prosperaram.
Plantada às margens do velho Paraíba, aprisionada entre as montanhas que cercam o vale, talvez por medo ou por preguiça, durante muito tempo Barra Mansa acomodou-se junto ao rio deixando a vida correr lerda e ociosa como as águas barrentas que seguiam lentamente rumo ao mar.
...mas outros tempos chegaram. Invadida pelos que vieram atraídos pela corrida do aço, sacudiu a antiga modorra, abriu os olhos e, numa ultima espreguiçadela, acordou e foi à luta.
E toda gente se mexeu. Para trás, ficaram as cadeiras nas calçadas, as fofocas maldosas das comadres, os piqueniques no parque das preguiças, o canto das ladainhas, os domingos pacatos que se resumia, na missa da matriz, numa bela macarronada e nas retretas da pracinha – lazeres e crenças ingênuos que faziam as delícias dos viventes daqui.
O dinheiro correu fácil e, com ele o progresso chegou de repente modificando as pessoas e a face da cidade.
A “perereca” que enchia de sons a avenida e espalhava notícias e propagandas aos quatro ventos, cedeu lugar à nossa primeira emissora. Vieram os ônibus e, para eles, as estradas foram asfaltadas. Multiplicaram-se as escolas e os armazéns de secos e molhados transformaram-se em modernos supermercados. Rio e São Paulo chegaram mais perto e viver aqui foi ficando cada vez mais caro, difícil e perigoso.
Indiferente às lamúrias de uns poucos saudosistas, sisudos casarões foram ao chão para que deles, de suas raízes, brotassem imensos edifícios capazes de abrigar uma nova geração que crescia da noite para o dia.
Quando aqui aportei nos idos de 50, Barra Mansa há muito deixara de ser “a cidade de uma rua só” como chamavam os de fora, não sei se por inveja ou por maldade. Livre de velhos temores, as casas se aventuravam pelos morros adjacentes grupando-se em vilas novas, coringas, independências e nem sei quantas mais.
Em sua constante mutação, Barra Mansa já não consegue ser a mesma por muito tempo. Num abrir e fechar de olhos, ricos ficam pobres e pobres ficam ricos; nobres mansões se transmutam em clínicas e pensões, campo de futebol em rua, cinemas fecham, abrem-se motéis.
...e Prefeitura vira Centro Administrativo!
O rio... ah! O rio continua o mesmo. Nas cheias, engorda e invade o que pode, destruindo barracos, carregando árvores e animais desavisados. Nas secas, exibe suas intimidades, despudoradamente, indiferente aos nossos olhares curiosos. Mas já não se pode deter Barra Mansa em sua alucinante corrida, em sua arrancada para o alto.
Se a cidade perdeu sua alma, não sei. No último domingo, no morro da televisão onde os ricos se instalaram, um menino comandava uma pipa colorida que tecia arabescos no céu barramansense. E tive a nítida impressão de que, pairando sobre tudo e todos, dominando o vale e as montanhas, feliz como pássaro em pleno vôo, a alma da cidade se deixara ficar ali, brincando nas mãos de uma criança, humilde e anônima como tantas outras que vivem por aí, sem que saibamos delas.


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