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segunda-feira, 18 de julho de 2011

UMA CENA QUE IMPRESSIONOU

Amigos leirores,
Segue mais uma valiosa contribuição de nossa amiga e leitora Ariane Porter.
 
Obrigado Ariane pela grande colaboração e mesmo estando longe nunca esquecendo de nossa querida Barra Mansa

 
Por Ariane Porter
 
 
 
Queridos amigos do blog'

Outro dia li um texto no blog "Estação Barra Mansa" sobre a vida de um senhor que trabalhava como porteiro no Clube Municipal. Foi muito interessante lembrar dessa pessoa que eu encontrava todas segundas e quartas na época em que jogava vôlei La no clube. Minha memória "trabalhou duro" tentando relembrar seu rosto... E não consegui. Lembro-me da pessoa, da figura, seu jeito de ser, o qual sempre foi muito educado comigo, mas foi impossível visualizar a face desse cidadão.

Depois desse exercício, parei e tentei lembrar de outras pessoas que fizeram parte da minha historia de BM, não só as figuras "ilustres e folclóricas", mas sim figuras que eu via sempre pela rua, as quais nem mesmo sei os seus nomes, mas me lembro muito bem das suas feições.
Vários rostos apareceram na minha mente, mas HOJE, hoje eu gostaria de falar sobre uma senhora em particular, uma senhora que não esta mais entre nos, mas acredito que muitos Barra-mansenses ainda se lembrem dela. Se nome era "Maria", Dona Maria, uma pessoa que eu nunca conheci pessoalmente, mas que passei por ela várias vezes pela rua e cada encontro deixou uma marca na minha memória. Lembro muito bem do seu rosto e por isto, resolvi trazer para vocês um texto que li ha algum tempo. A autora desse texto é a Senhora Natalia Therezinha de A. Faria, mas adoraria compartilhar o que ela escreveu com vocês. Eu sou apenas uma "PONTE", para trazer uma homenagem póstuma a essa Dona Maria em particular.



UMA CENA QUE IMPRESSIONOU (Natalia Therezinha de A. Faria)

Já faz algum tempo... Para dizer a verdade, nem sei quanto... Só sei que me impressionou e eu não consigo esquecer.

Numa manha de verão, apressada como sempre, tomei o ônibus da empresa Colitur, partindo da Santa Clara em direção a cidade, a fim de fazer algumas compras e voltar para preparar o almoço.

Desci a Mario Ramos, passei pela galeria Irmão Sales e fui ate a Joaquim Leite. De repente, meus ouvidos captaram o som angustiado de uma voz feminina que gritava, maldizia a vida e soltava inúmeros palavrões.
Assustada, parei para ver o que acontecia. E o que vi?

Uma figura estranha: baixinha, cabelos encaracolados, gordinha, pele clara mais envelhecida, vestido remendado, uma faixa vermelha na cintura, chinelos de borracha, um casaco de frio empoeirado e enfeitado por um enorme broche de plástico.

Com tanto calor que eu sentia, transpirando como que, fiquei admirada pela disposição da criatura em carregar um casaco tão pesado. Seria normal aquela vivente? Talvez não, nem sei... Olhando seu rosto envelhecido, mas todo rebocado de rouge vermelho, batom passado fora dos lábios e um pó que não combinava com a cor de sua pele, contatei que ela não "batia" bem. Era uma pobre vivente, que sem rumo certo na vida, transitava pela cidade, indo e vindo sem grandes perspectivas.

Coitada! Como gritava!

Um pouco adiante, alguns moleques riam da pobre mulher e repetiam
Incessantemente: "Maria Bacia"... "Maria Bacia"!...

A cada grito da molecada, a tal Maria repetia palavrões e atemorizava os que ao seu lado passavam. Cansada de brigar em vão, Maria pegou uma pedra e com muita raiva atirou-a a distancia, sem saber onde ia parar.
Por sorte, a pedra sem destino foi cercada pela copa de uma arvore da praça da matriz, e, temerosos, os moleques se evadiram para Rua São Sebastião, deixando Maria nervosa, mas, por alguns instantes, livre da perseguição do apelido que ela tanto detestava.

Foi ai que eu segui meu caminho, sentindo uma sensação diferente. O calor já não me impressionava mais. O que estava apertando em mim desta vez, eram os dois sentimentos opostos, observados na cena que eu acabara de presenciar: para uns rirem, alguém precisava chorar... Para felicidade de alguns, Maria precisava sofrer.

E nos, os expectadores, o que fizemos? Nada. Seguimos indiferentes os nossos caminhos, deixando Maria só e desamparada a espera de outros que dai a pouco deveriam passar por La e repetir o "Maria Bacia" que tanto a fazia sofrer.

Hoje, algum tempo depois, costumo fazer o mesmo trajeto de ônibus e no centro percorro as ruas de sempre. Os passantes La estão, a molecada também. Mas e Maria, o que foi feito dela?

Já não escuto seus gritos, nem deparo com aquela figura "esquisita", de trouxinha apertada contra os seios e pedriscos nas mãos. Porem, de Maria eu guardo uma lembrança estranha: mulher abandonada, ingênua, desbocada e solitária. Maria, simplesmente Maria, uma entre tantas, sem sobrenome, sozinha...sem ninguém.

Acredito eu, que Maria, aquela que ontem me impressionou, hoje, de algum lugar deve olhar penalizada para outras tantas "Marias" que aqui na Terra convivem com esta humanidade tão indiferente a dor alheia.

NATALIA THEREZINHA DE A. FARIA

 
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